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Alcolumbre pressiona por cargos em agências, e atrito com Silveira preocupa governo

GABRIEL SABÓIA E CAMILA TURTELLI, O Globo
Presidente do Senado disputa espaço com ministro de Minas e Energia e mira autarquias que lidarão com Margem Equatorial. Lula tenta costurar acordo de olho em base de apoio.

Convidado da comitiva do governo ao Japão e ao Vietnã, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), recebeu um tratamento especial no avião presidencial, sendo alocado na área reservada para as figuras mais importantes da missão, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Já o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, se acomodou em uma poltrona nos fundos.

A distância entre o chefe do Congresso e o integrante do primeiro escalão foi mantida nos compromissos da semana passada. Silveira, segundo aliados, até mesmo titubeou em aceitar ser incluído no grupo de autoridades do périplo internacional. O ambiente entre os dois não era bom.

O mal-estar tem como pano de fundo o fato de Alcolumbre fazer pressão sobre o governo por indicações para agências de setores de infraestrutura, como as de Petróleo e Gás (ANP), Aviação Civil (Anac) e Energia Elétrica (Aneel), que hoje têm diretorias interinas. E é justamente nessa área, também sob influência de Silveira, o ponto delicado da relação. Ambos disputam espaço para ter a palavra final. Procurados, tanto Alcolumbre quanto Silveira não quiseram se manifestar sobre o tema.

No papel, a prerrogativa de escolher quem assume as vagas é de Lula, e cabe ao Senado sabatinar os candidatos, aprovando-os ou não. Mas um acordo firmado no governo Bolsonaro com a cúpula do Congresso delegou essa função aos parlamentares. Alcolumbre já fez outras indicações ao governo, inclusive de membros da sua família.

No caso da ANP e da Agência Nacional de Mineração (ANM), que também conta com interino em sua diretoria, há um interesse específico de Alcolumbre para que contem com quadros que tenham a anuência do Senado: os dois órgãos terão um papel relevante nas pesquisas da Margem Equatorial, ao definir um modelo de exploração e acompanhar e fiscalizar os trabalhos na faixa de terra que pode ter até 30 bilhões de barris de petróleo.

O tema é prioritário para Alcolumbre, já que contemplaria o seu estado, o Amapá. Diante do descontentamento, o presidente do Senado levou a questão à ministra da Secretaria das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann.

Lula viu na viagem à Ásia uma oportunidade de reaproximação e insistiu na ida de Silveira, que havia alegado outros compromissos para não embarcar. Segundo os presentes, porém, ficou claro o distanciamento com Alcolumbre.

Definições em acordo
Na negociação para as agências, alguns nomes já estão na mesa do presidente do Senado, como Arthur Watt Netto, que foi indicado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) para assumir a ANP, e Guilherme Sampaio, que já é diretor, mas deve assumir a direção-geral da ANTT. Há indefinição acerca de outros nomes, sobre os quais é necessário chegar a acordos com o governo. Por isso, Alcolumbre espera ter todos os indicados alinhados antes de enviá-los à Comissão de Infraestrutura.

O acordo pelos cargos é considerado fundamental para Lula se acertar com Alcolumbre, já que o senador pode ser um aliado estratégico para levar adiante pautas do governo e, com sua influência sobre a política interna na Casa, baixar a fervura da oposição.

Presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério (PL-RO) diz que a demora do governo em um acordo deixa agências “enfraquecidas”:

— Não é só o Alcolumbre insatisfeito. O parlamento está incomodado. Existem agências comandadas por interinos, que não foram sabatinados. Alguns nem sequer são do quadro permanente das agências em questão. A agência, com isso, perde a altivez, a independência.

Familiares de Alcolumbre têm cargos distribuídos em diferentes áreas do governo. Seu irmão, Josiel, é presidente do Sebrae no Amapá desde 2022, cargo definido por eleição, mas no qual a influência do governo pesa na escolha.

Na esfera federal, Aharon Alcolumbre, primo do senador, foi nomeado diretor na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) em agosto. A autarquia é vinculada à pasta da Integração e Desenvolvimento Regional, do ministro Waldez Goés, ligado ao presidente do Senado. Outro primo, Max, chefia a divisão amapaense da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Esbserh).

Em nota, Alcolumbre afirma que não teve ingerência no cargo ocupado por Max. O presidente do Congresso cita o fato de o primo ser médico e concursado. Josiel, por sua vez, diz que sua escolha para presidir o Sebrae no estado foi resultado de uma eleição interna “disputadíssima”. Os demais citados não responderam aos contatos da reportagem.

https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2025/04/07/alcolumbre-pressiona-por-cargos-em-agencias-e-atrito-com-silveira-preocupa-governo.ghtml

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