Lewandowski diz que Governo vai atacar controle de postos de combustiveis e refinarias pelo crime

EDUARDO GONÇALVES, O Globo

PF vai abrir inquérito sobre infiltração do crime organizado no setor de combustíveis, diz Lewandowski
Ministro da Justiça afirmou que mais de mil postos e usinas de etanol estão sob controle de facções

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou nesta quarta-feira que “determinou” à Polícia Federal a abertura de um inquérito sobre a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis. Segundo o ministro, há atualmente mais de mil postos do setor e usinas de etanol na mão de facções criminosas. A declaração foi dada na primeira reunião do Núcleo Estratégico de Combate ao Crime Organizado ocorrida no Palácio da Justiça, em Brasília, que contou com autoridades da pasta, Polícia Federal, Receita Federal, Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e ministério de Minas e Energia.

— A criminalidade está migrando da ilegalidade para a legalidade. Um setor que tem preocupado muito as autoridades é o da distribuição de combustíveis. Consta que o crime organizado já estaria controlando mais de 1000 postos de combustível e algumas refinarias de etanol. Alguns governadores estão nos relatando isso. Esse é um tema que nós vamos atacar — disse o ministro no início da reunião que foi aberta à imprensa.

A entrada do crime no setor de combustíveis foi o primeiro abordado no encontro promovido pelo governo federal. O segmento sempre foi visto como atrativo pelo crime organizado em razão do grande número de pagamentos em dinheiro vivo e sem nota fiscal, que facilitam esquemas de lavagem de dinheiro.

Segundo o ministro, além da lavagem de dinheiro, as facções utilizam os postos de combustíveis para “sonegar bilhões em impostos”, formar carteis e adulterar combustíveis. Isso tem “causado prejuízos” e prejudicado a competitividade do setor.

O número de quase mil postos e quatro usinas de etanol na mão de facções foi relatado ao ministro por autoridades do governo de São Paulo. Em reunião com Lewandowski e o presidente Lula, em outubro do ano passado, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que o setor de combustíveis era “um dos preferidos” do Primeiro Comando da Capital (PCC) para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. — Estamos vendo a profusão de produtos que estão sendo adquiridos pelo crime e até usinas de etanol — disse ele, na ocasião.

O tema também tem sido discutido no Congresso Nacional – um pedido de CPI foi protocolado no fim do ano passado para investigar organizações criminosas que se apropriam da operação de distribuidoras e usinas no país.

“A crescente infiltração do crime organizado no setor de combustíveis do Brasil, incluindo a distribuição de gasolina e etanol, demanda uma investigação ampla e urgente”, diz o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA) no requerimento.

Comandada por Lewandowski, a reunião contou com a participação do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues; do presidente do Coaf, Ricardo Liao; do secretário especial da Receita Federal, Robinson Barreirinhas; do secretário nacional e Segurança Pública, Mario Sarrubbo; do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Antônio Oliveira; do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Alexandre Cordeiro e outras autoridades.

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