Editorial O Globo
Descalabro desvendado pela Lava-Jato mostra como interferência política gera prejuízos bilionários. Eis que estão de volta a intervenção no preço de combustíveis, os subsídios para automóveis, para a indústria naval e agora, como se tudo isso não bastasse, a Rnest, em Pernambuco.
A Rnest ficou conhecida por duas características. Primeiro, foi um dos maiores focos da corrupção desmascarada na Petrobras pela Operação Lava-Jato. Segundo, foi uma das obras que mais atrasaram — até hoje não está pronta — e um dos maiores ralos de dinheiro de que se tem notícia. Orçada inicialmente em US$ 2 bilhões, consumiu US$ 22 bilhões até que, no governo Michel Temer, a Petrobras teve o bom senso de excluí-la de seu plano de investimentos. Agora, sob o pretexto de reduzir as importações de diesel, voltou a incluir.
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Em abril de 2022, a Petrobras decidiu fazer uma última rodada de investimentos para tornar a Rnest mais atraente aos compradores. Ela estava à venda, com outros ativos da estatal, para ajudar a reduzir o endividamento e permitir apostar em negócios mais promissores no futuro. Mas, uma vez no poder, o PT desistiu de privatizar as refinarias, para apostar num negócio que já deu errado no passado.
Entre 2007 e 2014, nas gestões petistas, a Petrobras investiu em refino quase 70% de todos os recursos que destinou à atividade desde que foi criada, em 1953, segundo documentou um estudo dos economistas Adriano Pires, Samuel Pessôa e Luana Furtado, publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas. O retorno desse investimento foi ridículo. Entre 1954 e 1999, a estatal investiu US$ 24,7 bilhões (em preços de 2012) para refinar 2,03 milhões de barris por dia. Entre 2003 e 2015, gastou mais que o quádruplo — US$ 100 bilhões — para ampliar o refino em menos de 20%, ou 400 mil barris diários.
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Parte da história desse descalabro empresarial foi desvendada pela Lava-Jato, ao demonstrar como a interferência política na estatal, sob a influência das empreiteiras, acarretou desvios bilionários. Outra parte está na decisão de construir a Rnest em si. O projeto da refinaria em Pernambuco foi decidido numa conversa entre Lula e o caudilho venezuelano Hugo Chávez. Ficou acertado que se chamaria Abreu e Lima, em homenagem a um general brasileiro que lutou pela independência de vários países da América Latina, inclusive a Venezuela, e que o governo Chávez participaria do investimento.
A promessa jamais foi cumprida. Assim como jamais a Rnest foi capaz de dar sinais de que recuperaria os investimentos recebidos. Agora o novo Conselho de Administração da Petrobras acaba de considerar que a refinaria tem “atratividade econômica confirmada” e determinou novos investimentos, de acordo com a política de “reindustrialização” do governo. Sem maiores preocupações com custos, rentabilidade ou produtividade. Replay de uma história conhecida.
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